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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Colicas do lactente

O texto abaixo é a introdução do trabalho publicado no Jornal de Pediatria.Nele vocês poderão encontrar referencias caso queiram ler mais.

Incidência de cólica no lactente e fatores associados:
um estudo de coorte

Maria A.L. Saavedra, Juvenal S. Dias da Costa, Gilberto Garcias,
Bernardo L. Horta, Elaine Tomasi, Rodrigo Mendonça
J Pediatr (Rio J) 2003;79(2):115-22

A definição clínica para cólica do lactente mais aceita na literatura é a de Wessel (1), que descreve esta síndrome como paroxismos de irritabilidade, agitação ou choro, durante pelo menos três horas por dia, mais de três dias na semana em pelo menos três semanas, em crianças saudáveis. O lactente chora de forma inconsolável, geralmente ao anoitecer, sem uma causa identificável e com exame físico normal. Esse problema usualmente surge na segunda semana de vida, intensifica-se entre a quarta e a sexta semana e gradativamente alivia, desaparecendo até o terceiro mês de vida.

A cólica do lactente é uma condição transitória, sem riscos de mortalidade e que não interfere no crescimento da criança. Entretanto, além de ser uma situação extremamente estressante para a família e para o pediatra, pode alterar o desenvolvimento pelo reflexo negativo na interação da criança com seus pais e, ainda, deixar seqüelas emocionais, levando ao surgimento de transtornos somáticos no lactente (2). Estudos prospectivos têm demonstrado que a cólica produz sensação de incompetência nos pais, discórdia entre o casal e aumenta o risco de abuso e violência doméstica (2,3).

O choro do lactente é, de todos os padrões de comportamento pré-verbais, o que mais chama a atenção dos pais. Na tentativa de reconhecer o padrão de choro em diferentes circunstâncias como fome, dor e frio e aperfeiçoar a definição de cólica, vários trabalhos com gravações, observações diárias e análises do espectro do choro foram realizados. Demonstrou-se a capacidade das mães reconhecerem os padrões de choro de seus filhos, parecendo ser confiável esta informação a partir da percepção materna, e o choro seria o critério mais fidedigno para o diagnóstico de cólica (4-7).

No que diz respeito à sua etiologia, do ponto de vista da gastrenterologia, já foram sugeridos: imaturidade ou alergia gastrintestinal, intolerância ao leite de vaca, má absorção e refluxo gastresofágico (8,9). Reforçando a hipótese de que a cólica pode ser decorrente da intolerância ao leite de vaca, o tratamento que utiliza leite de soja ou fórmulas hipoalergênicas mostra redução dos sintomas (10,11).
Alguns autores também apontam para a importância da relação familiar. Forsyth et al. (12) citam preocupações em relação à alimentação e o baixo nível de educação materna como fatores associados à cólica. Para outros autores, a cólica pode ser um sintoma de disfunção na díade mãe-filho e/ou desta no âmbito familiar (2,13,14). O ambiente se caracterizaria por uma manipulação inadequada devido à inexperiência, ansiedade, depressão ou raiva dos pais. Experiências de sintomas clínicos, descontentamento com a relação sexual na gravidez e uma vivência negativa no parto também têm sido associados à ocorrência de cólica, assim como isolamento social na gestação e uma mãe insegura na ocasião do nascimento (15). Por outro lado, trabalhos recentes sugerem a cólica como uma manifestação do desenvolvimento emocional normal, como uma menor capacidade do lactente em regular a duração de seu choro, ou que seja uma questão de temperamento (16,17).

A melhora do quadro através de condutas terapêuticas que modificam o comportamento das mães em relação às crianças (tais como não deixar o bebê chorar, dispositivos de embalo ou vibração mecânica, formas de pegar ao colo) apóiam a hipótese de causas extrínsecas para a cólica (3,5,9,18,19). Entretanto, alguns trabalhos sobre o tema foram conduzidos em populações altamente selecionadas, o que dificulta a sua generalização.


1. Wessel MA, Cobb JC, Jackson EB, Harris GS, Detwiler AC. Paroxysmal fussing in infancy, sometimes called "colic". Pediatrics 1954;14:421-34.

2. Fractman MSV. Las perturbaciones funcionales del lactante. Revista del Hospital de Niños 1982;24:99-102.
3. AJ. Management of infantile colic. Am Family Physician 1997;56:235-42.

4. Leger DW, Thompson RA, Merrit J, Benz J. Adult perception of emotion intensity in human infant cries: effects of infant age and cry acoustics. Child Dev 1996;67:3238-49.
5. Geertsma A. Cólicas - uma síndrome dolorosa do lactente? Clin Ped Am Norte 1989;4:955-71.

6. Field PA. A comparison of symptoms used by mothers and nurses to identify an infant with colic. Int J Nurs Stud 1994;31:201-15.
7. Baar RG, Rotman A, Yaremko J, Leduc D, Francouer TE. The crying of infants with colic: a controlled empirical description. Pediatrics 1992;90:14-21.

8. Cheyne PS, Kulczycki A. Human breast milk contains bovine IgG. Relationship to infant colic? Pediatrics 1991;87:439-44.
9. Treem WR. Infant colic. A pediatric gastroenterologist's perspective. Pediatr Clin North Am 1994;41:1121-38.

10. Garrison MM, Christakis DA. A systematic review of treatments for infant colic. Pediatrics 2000;106:184-90.
11. Bocquet A, Bresson JL, Briend A, Chouraqui JP, Darmaun D, Dupont C, et al. Infant formulas and soy protein - based formulas: current data. Arch Pediatr 2001;8(11):1226-33.

12. Forsyth B. Colic and the effect of changing formulas: a double-blind, multiple crossover study. J Pediatr 1989;115:521-6.
13. Baar RG. The "colic" enigma: prolonged episodes of a normal predisposition to cry. Infant Mental Health J 1990;11:340-8.

14. Jacobson D, Melvin N. A comparison of temperament and maternal bother in infants with and without colic. J Pediatr Nurs 1995;10:181-8.
15. Rautava P, Helenius H, Lehtonen L. Psychosocial predisposing factors for infantile colic. Br Med J 1993;307:600-4.

16. Canivet C, Jakobsson I, Hagander B. Infantile colic. Follow-up at four years of age: still more "emotional". Acta Paediatr 2000;89:13-7.
17. Huhtala V, Lehtonen L, Heinonen R, Korvenranta H. Infant massage compared with crib vibrator in the treatment of colicky infants. Pediatrics 2000;105:E84-86.

18. Armstrong K, Previtera N, Mc Callum R. Medicalizing normality? Management of irritability in babies. J Paediatr Child Health 2000;36(4):301-5.
19. Lucassen PLBJ, Assendelft WJJ, van Eijk JThM, Gubbels JW, Douwes AC, van Geldrop WJ. Systematic review of the occurrence of infantile colic in the community. Arch Dis Child 2001;84:398-403.

Um comentário:

  1. Opinião de uma Mãe de 1a viagem:

    Mamães normalmente querem o melhor para seus filhos, e se tratando de bebês, o que a gente deseja é o bem-estar deles. Se o bebê chora a gente logo pensa que ele não está bem, está incomodado com alguma coisa, ou até mesmo sentindo dor. Mamães de 1a viagem se deparam com um universo de informações até então desconhecido. E o pior é que MUITAS vezes essas informações são completamente divergentes! Para essas mães, ter o 1o filho inicia um processo de conhecimento constante, é o dia-a-dia que vai fazê-la conhecer melhor seu bebê a ponto de poder identificar, nos diferentes tipos de choro e no comportamento dele, as diferentes situações que se apresentam.

    Mamães, tenham muita paciência com seus bebês, e demonstrem sempre todo o seu amor, carinho, para que eles se sintam com segurança e proteção. E não tenham vergonha de perguntar a quem entende, no caso, aos pediatras dos seus filhos, todas as dúvidas que ocorrerem. É melhor buscar informação segura do que acreditar nas crendices populares e nas coisas que lemos na internet.

    Pediatras, tenham muita paciência com as mamães de 1a viagem, pois esse universo é completamente novo para elas!

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